Advogada de uma das famílias da tragédia do Ninho do Urubu relata descaso: “Uma das famílias sequer falou alguma vez com o Flamengo. Apenas recebeu o caixão do filho e acompanhou tudo pela televisão”

Foto: (Gilvan de Souza/Flamengo)

A advogada Mariju Maciel, que defende uma das famílias das vítimas da tragédia envolvendo jovens das categorias de base do Flamengo, concedeu entrevista à Rádio Grenal para explicar os desdobramentos judiciais entre o clube os ententes dos 10 adolescentes, que morreram durante um incêndio no Ninho do Urubu.

Passado mais de um ano desde a tragédia ocorrida em 8 de fevereiro de 2019, as negociações entre as famílias dos jovens e o clube carioca seguem nos tribunais. Apesar da posição do Flamengo, de que 19 famílias e meia, das 26 atingidas no episódio trágico, já entraram em acordo, a advogada afirma que apenas 3 famílias e meia já aceitaram a proposta de indenização. Dra. Mariju também aponta descaso em alguns dos casos.

“Só para se ter uma ideia, uma das famílias sequer falou alguma vez com o Flamengo. Apenas recebeu o caixão do filho e acompanhou tudo pela televisão. O Flamengo pega o caso da boate aqui do Estado como exemplo para pagamento as famílias. Mas não podemos comparar a boate com o Flamengo. O Flamengo não aceitou a proposta do MP e fez propostas individualizadas para familiares. Mas há um caso que a mãe não tinha mais família, então ficaria com valor inferior ao das outras.”

Nota do Flamengo

Recentemente, o Flamengo se pronunciou de maneira oficial a respeito das declarações do apresentador da Rede Globo Fausto Silva. No comunicado, o clube respondeu às “acusações” indicando o trabalho realizado desde “a a maior tragédia em seus 124 anos de existência”.

Confira trechos da nota:

– Não falou que 19 famílias e meia, das 26 atingidas pela tragédia, já entraram em acordo no que diz respeito às indenizações.

– Que o Flamengo, desde o primeiro momento da tragédia, trouxe familiares de todas as vítimas para o Rio de Janeiro e os hospedou em um hotel para que pudessem acompanhar de perto as apurações das autoridades competentes. O mesmo aconteceu com as famílias residentes no Rio de Janeiro.

– Que, por iniciativa própria, o Clube pagava, desde fevereiro de 2019, uma ajuda de custo mensal no valor de R$ 5 mil, ou seja, seis vezes maior do que a média que os atletas recebiam. Desde o fim do ano passado o valor pago pelo clube passou para R$ 10 mil.

– Que, desde o primeiro momento, o Flamengo disponibiliza assistência médica, pedagógica, psicológica e social para as vítimas e seus familiares.

– Que o Flamengo ofereceu a todas as famílias um valor muitas vezes superior ao que a Justiça brasileira costuma determinar em casos como este.

– Que o Clube mantém sim contato com as famílias, inclusive por meio dos advogados constituídos por elas próprias para representá-las.

Frente ao posicionamento do clube, a advogada explica que as resoluções das indenizações citadas foram com famílias dos atletas sobreviventes: “Esses acordos que o Flamengo relatou na nota são com meninos sobreviventes, que iam seguir no clube. Acabaram aceitando valor menor pra seguir. Um deles, após o acordo, foi dispensado.”

Sobreviventes dispensados

Conforme citado pela Dra. Mariju Maciel, cinco jogadores que estavam no Ninho do Urubu na data do incêndio não tiveram o contrato renovado e foram dispensados pelo Flamengo. São eles: Naydjel Callebe (zagueiro), João Victor Gasparin (lateral-direito), Caike Duarte Pereira da Silva (meia), Felipe Cardoso (meia) e Wendel Alves (atacante), conforme noticiado pelo Globoesporte.com.

Investigação do caso

Até o momento, ninguém foi responsabilizado, de forma criminal, pelo incêndio. Um relatório pedindo o indiciamento de pessoas do clube foi entregue ao Ministério Público do Rio de Janeiro em 2019. Entretanto, o órgão devolveu o documento e pediu complemento às investigações, conforme noticiou a Agência Brasil.

O incêndio que ocorreu durante a noite, no alojamento das categorias de base, que ficava em contêineres no próprio centro de treinamento vitimou 10 jovens: Athila Paixão, de 14 anos, Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, de 14 anos, Bernardo Pisetta, de 14 anos, Christian Esmério, de 15 anos, Gedson Santos, de 14 anos, Jorge Eduardo Santos, de 15 anos, Pablo Henrique da Silva, de 14 anos, Rykelmo de Souza Vianna, de 16 anos, Samuel Thomas Rosa, de 15 anos, e Vitor Isaías, de 15 anos.

“O clube colocou crianças pra dormir em um contêiner de alta combustão. Incendiaram em 45 segundos. Não era próprio para dormitório. Falha gritante. Lamentável para um clube desse tamanho”, declarou a advogada Mariju Maciel à Rádio Grenal.

Famílias são impedidas de realizar homenagem no Ninho do Urubu

Na data em que a tragédia completou um ano, famílias das vítimas do incêndio foram até o local da tragédia, mas foram barradas no CT Ninho do Urubu. Apenas os familiares de Pablo Henrique tiveram acesso mediante autorização prévia.

“Não deixaram uma mãe ascender uma vela para o filho no Ninho, pois disseram que atrapalharia a concentração. É tanta desumanidade. Lamentável a postura do Flamengo”, afirmou a advogada Mariju Maciel.

 

 

* Por supervisão de: Marjana Vargas

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