Por Redação Rádio Grenal | 17 de fevereiro de 2021
1979, o último ano da década de ouro das discotecas. A disco music invadia qualquer lugar com sua batida dançante. Quem também tinha ido muito bem, obrigado, na década de 70 era o Internacional. Até aquele ano, o Inter tinha conquistado duas vezes o campeonato brasileiro. Mas o fim da década reservou um feito inédito e inigualável ao torcedor colorado. Aliás, você se lembra ou sabe como era o mundo quando o Inter foi tri campeão brasileiro? Então, sinta-se à vontade nesta viagem ao passado.
Para começo de conversa, você só estaria ouvindo esta matéria pelo rádio e com esse som característico. Curioso que foi em 1979, ano do tri, que a Sony lançou o Walkman, dispositivo móvel que revolucionou o jeito de ouvir música. Foi o primeiro projeto do que hoje nós vemos com tanta naturalidade nos smartphones. Mas vamos logo ao que interessa.
Se 79 foi o último capítulo da década especial nas discotecas, foi também um encerramento glorioso daqueles anos para o Inter. Enquanto Tony Manero quebrava tudo nos embalos de sábados à noite, o Inter empilhava vitórias nas tardes de domingo. O torcedor colorado só tinha motivos para comemorar.
1975 marcou o primeiro título nacional do Inter. O então heptacampeão gaúcho levou a hegemonia estadual para outro patamar. Depois de bater na trave em anos anteriores, a bola finalmente entrou, contra o Cruzeiro. E não poderia ter entrado com outra simbologia. Como um sinal divino, um feixe de luz rasgou o beira-rio e destacou o segundo em que Figueroa subiu para o cabeceio que deu a primeira glória ao colorado.
- GOL FIGUEROA - INTER 1975 2:10
1976 foi a “parte dois” da trilogia colorada. O time comandado por Rubens Minelli seguiu a toada do ano anterior. A semifinal contra o Atlético Mineiro teve ares de final antecipada. Tão ensaiada quanto os passinhos das discotecas foi a tabelinha entre Falcão e Escurinho.
- GOL FALCÃO - INTER 1976 1:10
Inter na final contra o Corinthians! A Academia do Povo era poderosa e robusta como o Ford Corcel, um dos carrões esportivos da época. O 2 a 0 no Beira-Rio marcava o bicampeonato do Inter.
- GOL VALDOMIRO - INTER 1976 1:01
Mas 1979 não começou como o torcedor colorado esperava. O Inter não conseguiu vencer o Torneio Mar del Plata e ainda ficou em terceiro no Gauchão sem ter vencido nenhum clássico Grenal. Parecia que aquele seria um ano diferente de 75 e 76, quando o Inter havia sido absoluto na disputa da então Copa Brasil.
O torcedor que ouvia Teixeirinha amanhecer cantando via o time colorado gerar desconfiança em campo. Inclusive, a música Querência Amada recém tinha sido lançada e já era um sucesso. Depois dos insucessos nos torneios do início do ano, Ênio Andrade preparou o time para aquele Campeonato Brasileiro que, ao seu final, faria novamente ecoar o grito de “Viva o Rio Grande do Sul”.
- RELATO BENÍTEZ 0:44
O relato do goleiro Benítez explica um pouco do que foi o início daquele ano para os jogadores, que também sentiam a cobrança. Mas na Copa Brasil, as coisas foram diferentes. Inclusive, o presidente do Brasil, por exemplo, também já era diferente. Em 15 de Março, João Figueiredo foi escolhido pelo colégio eleitoral para ser o novo presidente do país, sucedendo a Ernesto Geisel. Seu mandato teve duração de 6 anos e foi o último do regime militar no país.
- POSSE JOÃO FIGUEIREDO - 1979 0:47
Tim Maia embalava os casais e as noites país afora com seus primeiros sucessos. Enquanto isso, o Inter recebia novos jogadores e mudava um pouco a cara do time que fora bicampeão nacional. Muitos foram trazidos de outros estados e até mesmo do exterior. Benitez, Cláudio Mineiro, Bira e Mário Sérgio foram algumas das caras novas. Da sua base, o Inter garimpou um jovem zagueiro franzino de 17 anos: Mauro Galvão.
- RELATO MAURO GALVÃO 1:08
A televisão já havia chegado no Brasil mas não era um artigo popular. Mesmo assim, as novelas Dancin’ Days e Pai Herói, com o jovem Tony Ramos interpretando André Cajarana, foram estouro de audiência durante os dias da semana de 79. Aos domingos, os olhos se voltavam à telinha para assistir a Copa Brasil, que era disputada por 94 clubes. Um inchaço do torneio que acontecia por motivações políticas. O Colorado disputou os 23 jogos do Brasileirão daquele ano sem ser vencido.
Surgia na Inglaterra uma banda chamada Queen. O vocalista, um líder nato e talentoso, chamava-se Freddie Mercury. Em Porto Alegre, um líder não menos talentoso e cheio de categoria com a bola no pé refinava o meio campo do Inter: Paulo Roberto Falcão. O meia havia ficado de fora da copa de 78, que foi vencida pela Argentina de Maradona, e sofrera com uma contusão no pé durante parte da temporada. Ainda assim, o craque recebeu o prêmio Bola de Ouro da Revista Placar, como melhor jogador daquele ano.
Falcão foi protagonista da principal disputa individual daquele ano. Em 13 de dezembro, dia da semifinal contra o Palmeiras, de Telê Santana, o Jornal da Tarde estampava em sua capa uma pergunta: Mococa ou Falcão? A provocação visava saber quem levaria a melhor e chegaria à final. Naquela noite, Falcão deu show no Morumbi, fez dois gols e o Inter venceu o Palmeiras por 3 a 2. No dia seguinte, o Jornal da Tarde exibia a resposta lógica: Falcão, é claro!
O Vasco, de Roberto Dinamite e Emerson Leão, era o adversário nas finais. No primeiro jogo, sob chuva forte no Maracanã, “seu Ênio” não pode contar com Falcão e Valdomiro, lesionados. Valdir Lima e Chico Spina foram os substitutos. E não é que Chico Spina marcou os dois gols do Inter no Rio? O Colorado veio com uma mão na taça para o jogo da volta.
23 de dezembro de 1979: a data do grande confronto. Na véspera do jogo do Beira-Rio, os cinemas brasileiros exibiam um dos lançamentos do ano: Rocky 2. Coincidência ou não, assim como nos filmes do boxeador, o Inter havia apanhado no início da história mas já era chegada a hora da redenção.
Na casa colorada, o último ato daquela campanha irreparável. Mesmo com a vantagem, o Inter sobrou em campo e diante de 54 mil torcedores, que se espremiam no Beira-Rio, bateu o Vasco. A trajetória estava coroada com uma vitória com gols de Jajá e Falcão.
- RELATO JAJÁ 0:51
A escalação daquele título jamais será esquecida: Benitez; Joao Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão, Cláudio Mineiro; Batista, Falcão, Jair, Mário Sérgio, Valdomiro e Bira. A festa estava formada nas arquibancadas Beira-Rio e transbordou para dentro do gramado e para as ruas de Porto Alegre.
41 anos depois, o Inter volta a brigar pelo título brasileiro e nunca esteve tão perto do Tetra. O time de Abel Braga quebrou alguns recordes e pode fechar o Brasileirão da pandemia com o título nacional. O discurso é o de jogo a jogo e com foco no próximo compromisso, mas nessa viagem de volta à decada de 70, descobrimos que olhar para trás também pode ser bom, não é mesmo?
Confira o especial completo em áudio:
- ESPECIAL: O MUNDO QUANDO O INTER FOI TRI 21:07
Especial: O Mundo Quando o Inter foi Tri, com produção de Bruno Flores, Lucas Dias e Nicolas Córdova, Locução de Bruno Flores e edição de Cleber Moscope, para a Rádio Grenal.
* Por supervisão de: Marjana Vargas
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