Por Redação Rádio Grenal | 17 de julho de 2019
Por Valéria Possamai*
Às vésperas da decisão pela Copa do Brasil, contra o Internacional, o técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, negou qualquer tipo de favoritismo na partida desta quarta-feira, no estádio Beira-Rio. Em entrevista exclusiva à Rádio Grenal, o comandante falou sobre suas impressões no futebol que já perdura, à beira do campo, mais de três décadas.
No saguão do hotel onde a delegação estava hospedada, na capital gaúcha, Felipão relembrava histórias e davas boas risadas com dois companheiros que fazem parte de sua história: o antigo auxiliar Murtosa e o jornalista João Garcia.
“Uma noite como hoje é inesquecível. Recebo aqui uma pessoa que estimo muito (João Garcia) e também recebo o Murtosa, que trabalhei 32 anos. É como um irmão. Muitas histórias recordadas e esquecendo um pouco de futebol. É normal que eu tivesse preocupadíssimo. Teria que me preocupar se eu não tivesse confiança na minha equipe, e tenho confiança no meu time. Estou tranquilo. Futebol é uma coisa que a gente imagina o tempo todo, tudo certo, e que às vezes, não dá certo. É a sequência da vida”, declarou o gaúcho de Passo Fundo.
Em meio a sua terceira passagem pelo Verdão (1997 e 2000, de 2010 a 2012 e desde 2018), o comandante destaca as evoluções nos mecanismos de trabalho fazendo menção ao conceito de “gestão de pessoas”. A experiência pelo mundo futebolístico aos 70 anos também passa pela era da modernidade. Aliado ao trabalho realizado desde 1982, o professor Felipão, formado em Educação Física, também utiliza dados estatísticos e outros recursos para aprimorar o desenvolvimento de seus métodos. “O futebol mudou muito. Agora, sete anos depois, temos uma situação no Palmeiras que eu nunca tive, em clube nenhum. Com tudo aquilo de mais moderno que a gente pode ter e usufruir em benefício da equipe”.
Com um elenco formado por nomes de destaque no cenário do futebol, Felipão descreve a “receita” da administração do vestiário: “Tem que saber administrar, falar com eles. Dar um treinamento adequado para que todos tenham as condições melhores quando forem chamados. E, tem que ter uma gerência de pessoas, que é um pouco mais difícil, mas que dá uma tranquilidade no momento em que tu necessita da tua equipe. Hoje temos mais recursos para administrar esses setores que englobam os atletas. Como temos esses recursos diariamente, se torna mais fácil. É isso que temos feito. Para que os atletas conheçam esses recursos e saibam onde podem melhorar”.
Quanto ao estilo de jogo, que vem caracterizando um dos melhores desempenhos do futebol brasileiro, o próprio treinador dá detalhes: “É um estilo que, nós do Sul estamos mais acostumados, de marcação forte. Um estilo de transição mais rápida e objetiva. Nós não temos a ideia de sairmos de trás e jogando de uma forma tranquila, de forma que tivéssemos que trocar 30 passes para chegar ao gol adversário. Uma série de detalhes. Nossos treinamentos são nesse estilo. Fazem com que o Palmeiras seja uma equipe competitiva. É quase uma sequência de tudo aquilo que fiz em todas as equipes que eu trabalhei”.
A receita da boa fase do Palmeiras é o trabalho com os pés no chão. Felipão afirma não ver superioridade de seu elenco com relação a outras equipes. E um pensamento é seguido à risca: igualdade.
“Eu discurso quase que diariamente. São as observações que a gente faz, o que passamos a eles através de vídeos, de treinamentos e mostrar que a igualdade está sempre presente. O Palmeiras, hoje, tem uma equipe e um elenco muito bom porque vem fazendo isso há quatro ou cinco anos. Muitas equipes do Campeonato Brasileiro contrataram 18 ou 17 jogadores, todos com qualidade. Só que nós estamos fazendo isso há quatro ou cinco anos. Temos uma situação mais tranquila, mas não vejo que o nosso elenco seja superior. Eu vejo igualdade. Se nos não dedicarmos e formos melhores não vamos atingir nossos objetivos”, pontua o técnico.
O respeito pelo adversário também está no dicionário do professor. Nem mesmo a vitória por 1 a 0 no jogo de ida, na última quarta-feira, no Allianz Parque, gera algum sinal de favoritismo. “Jogo igual. Não tem uma equipe que se sobreponha a outra. As duas equipes têm quase as mesmas características. Não se pode dizer quem passará. O Internacional é um todo e nos respeitamos como um todo”.
Ainda com relação ao adversário, Felipão faz uma revelação quanto às duas propostas recebidas para comandar o colorado. “Eu fico agradecido e tenho uma grande amizade e um grande respeito ao Internacional porque mesmo trabalhando no Grêmio e torcedor do Grêmio, recebi duas propostas do Inter. Sempre tive muito respeito pelo Inter. Tu és de uma equipe e não precisa desrespeitar outra equipe para te tornares ídolo daquela outra equipe, que tu trabalha ou torce. Se um dia tivesse que trabalhar no Internacional trabalharia com grande dedicação”.
A experiência notável em seus cabelos grisalhos reflete um história de quem já esteve no hall dos campeões por times brasileiros como o Grêmio, Criciúma e o próprio Palmeiras, além da conquista da Copa do Mundo de 2002 e das Confederações em 2013, com o Brasil. Contudo, a última passagem no comando do Brasil ainda é lembrada com pesar. O 7 a 1 sofrido para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014 está no roteiro de Felipão. “Foi um resultado que naquele dia nosso time não deu certo. Teve momentos de não estarmos preparados e tomarmos os gols. Ninguém queria isso, e nem eu. Não quero provar nada nunca para ninguém. O que eu provo nas equipes que eu estou é, que, trabalho com vontade e dedicação. O Brasil não ganhou comigo em 2002, sozinho. Eu não perdi sozinho, perdi com o grupo. Quando ganhamos, ganhamos com o grupo. É assim que tem ser”.
O nome do Luiz Felipe Scolari também está atrelado ao craque Cristiano Ronaldo. Um dos melhores jogadores do mundo foi lançado pelo técnico brasileiro, quando este comandava Portugal em 2003, em um amistoso contra Cazaquistão. “Ele trabalha para isso, se dedica. Muitos não tem o conhecimento como ele é como pessoa, com o coração. Se dedica de tal forma que, nenhum jogador se dedica, como eu vi o Cristiano fazer. Como pessoa: poucos igual ao Cristiano”.
*Estagiária sob supervisão de Marjana Vargas