Irmã se manifesta sobre declaração de Renato de que não tem um “time de freiras”

Irmã Celassi Dalpiaz considerou que a fala de Renato soou "extremamente machista"

Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Na entrevista coletiva após a vitória do Grêmio sobre o Bragantino na noite de segunda-feira (2), Renato Portaluppi disse que não era padre e que não treinava um “time de freiras”. A declaração repercutiu no meio religioso e fez com que a diretora de uma escola católica de Porto Alegre divulgasse um texto para criticar a expressão utilizada pelo treinador. A Irmã Celassi Dalpiaz, autora do artigo, falou com a Rádio Grenal na manhã desta quarta-feira (4) e se mostrou descontente com a fala de Renato:

“Eu como líder na educação preciso me posicionar. Não tenho nada contra o Renato, sou gremista. Mas essa frase soa em um sentido extremamente machista” (Irmã Celassi Dalpiaz)

Renato utilizou a frase para explicar as reações fervorosas de alguns jogadores em campo, principalmente contra o Bragantino. Maicon, por exemplo, deixou o campo irritado ao ser substituído e até concedeu entrevista coletiva para explicar a reação.

O uso do termo incomodou a Irmã Celassi, que é diretora do Colégio Santa Inês, tradicional escola privada da capital gaúcha mantida por uma congregação de irmãs. No texto dirigido diretamente ao técnico gremista, ela diz que a posição de Renato é “preconceituosa”.

Confira abaixo a íntegra do texto:

Time de Freiras

“Mais uma vez, deparo-me com um posicionamento preconceituoso que me causa indignação. ‘Eu não tenho um time de Freiras’. No esporte, é comum escutarmos expressões como essa, quando se quer explicar um comportamento que extrapola os limites. Essa justificativa denota, que pelo fato de ser freira, deve-se abaixar a cabeça, submetendo-se ao destino, sem luta. Quero te dizer, prezado Renato Portaluppi que, para ser FREIRA hoje, precisamos de muita garra e capacidade de luta, para nos sobrepor a tantos preconceitos de todos os gêneros. A indignação é que nos move e que nos faz olhar além do que vemos, tomar frente às situações de injustiças e, muitas vezes, ser resilientes. Por que pelo fato de ser freiras, não podemos usar de rebeldia, força e capacidade de enfrentar aquilo que entendemos injusto? O mundo mudou, meu caro. O olhar é outro e eu, sendo freira, não me eximo de nenhuma responsabilidade. Não me calo frente a situações injustas e nem aceito carteiraço. Indignar-se é sinônimo de não aceitar a situação. Seria bem mais educativo o Maicon, como líder que é, admitir que nada deu certo e, com seu comandante e companheiros, buscar alternativas para mudar. Chutar o balde, por vezes, só serve para esparramar a água, mas não resolve o problema. Essa já não é a primeira vez que me dirijo aos programas de rádio e TV para demostrar meu descontentamento por ouvir, de alguns, expressões levianas e que se tornam naturalizadas pelo fato de entendermos que são expressões cotidianas, em determinados espaços, para fazer uma comparação.

Estamos numa sociedade que requer posicionamento, para que haja transformações de julgamentos, aparentemente inocentes, mas que estigmatizam pessoas ou instituições. Como profissional da educação tenho compromisso de me posicionar contra isso, pois entendo que é dessa forma que também educo. O esporte arrasta multidões. Então, por que não usar este espaço para mudanças sociais? Tenho visto e reconheço muitos cidadãos que já o fazem. Como apaixonada por esporte, assídua aos debates e admiradora de tantos que compões esses times, deixo minha contribuição para podermos mudar de paradigmas e fazermos, juntos, uma revolução que educa.”

Irmã Celassi Dalpiaz

* Por supervisão de: Marjana Vargas

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