Por Redação Rádio Grenal | 28 de setembro de 2020
Por Nicolas Wagner
Quando uma equipe de futebol vive um momento de instabilidade, é natural que se faça um diagnóstico de quais são os problemas. No Inter, embora a campanha ainda seja de vice-liderança no Campeonato Brasileiro e liderança na Libertadores, os últimos 5 jogos foram de baixa produção, com somente uma vitória, um empate e três derrotas – incluindo mais uma para o Grêmio.
A pressão recai sobre os ombros de Eduardo Coudet. Que de fato não foi bem nas últimas partidas, com escolhas bastante questionáveis. Por mais que os desfalques no meio-campo fossem extensos, não dá para justificar a reedição da dupla Musto e Lindoso em pleno Grenal. O grupo curto também não explica esperar um gol que já estava se desenhando para desmontar essa parceria que faz o Inter trocar passes em “U” e só sair do campo de defesa no chutão.
Contra o São Paulo, ressalva deve ser feita pela desnecessária expulsão de Zé Gabriel – cuja saída do time titular para Rodrigo Moledo, aliás, pouco resolveria. Mas não faz sentido, baixando as duas linhas de 4 para marcar no próprio campo, não ter pelo menos uma peça de velocidade para puxar o contra-ataque. Marcos Guilherme é insuficiente? Então que se coloque Leandro Fernandez, que era o que tinha. Não Edenilson e Boschilia dos lados, jogadores importantes, mas com características alheias para serem escapes ofensivos.
Evidente que Coudet merece ser criticado e cobrado por essas escolhas. Mas existe uma diferença grande, pouco compreendida neste Brasil maniqueísta, entre criticar e querer demissão de técnico. Não fosse Coudet, o Inter não estaria nas primeiras posições como está. É preciso recordar qual o intuito da vinda do argentino para o Beira-Rio, que era reformar uma maneira de jogar, transformando o Inter em um time propositivo, agressivo e protagonista. Isso demanda tempo e resistência a oscilações.
O Inter tem problemas de montagem de elenco, que ficam evidentes a partir do momento em que surgem os desfalques. Moisés, Musto, Marcos Guilherme não tem qualidade para serem titulares do colorado. Faltam opções para velocidade e improviso – o Inter é o 3º que menos dribla no Campeonato Brasileiro. Não fosse Patrick, essa estatística seria ainda pior.
Mas o maior empecilho para o desempenho colorado, no momento, está fora de campo, ainda que reflita dentro dele. A ebulição política que iniciou na sexta-feira, com a confirmação da aliança entre Academia Colorada, Convergência Colorada e Inove Inter, e a consequente demissão de Alessandro Barcellos do cargo de vice de futebol, contaminou o ambiente. Basta ouvir as declarações abatidas de Eduardo Coudet e Rodrigo Caetano após o empate com o São Paulo.
O técnico argentino negociou com o Inter ano passado, quando Roberto Melo ainda comandava o departamento de futebol. Chegou em Porto Alegre já com Alessandro no cargo. Desenvolveu uma boa relação com o vice de futebol. Como fica a cabeça dele agora, considerando que, em menos de um ano de relação com o Inter, já viu dois nomes serem desligados da função? Como fica a cabeça dos jogadores contratados por Alessandro?
Política de clube influencia dentro de campo. A partir do momento em que o Conselho Deliberativo negou o pedido de Roberto Siegmann para que a eleição fosse realizada em fevereiro, após a temporada (algo lógico), era evidente que aconteceria isso que estamos vendo agora. Blindar totalmente o elenco é impossível, mas o desafio de Coudet, além da restauração do modelo de jogo, é fazer com que a instabilidade política reflita o mínimo possível em campo.
* Por supervisão de: Marjana Vargas
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